Francisco foi o primeiro papa em mais de 100 anos a ser enterrado fora do Vaticano; veja como foi despedida

Papa argentino foi enterrado na basílica de Santa Maria Maior, onde foi recebido por pessoas que tanto defendeu: pessoas em situação de rua, imigrantes e pes...

Francisco foi o primeiro papa em mais de 100 anos a ser enterrado fora do Vaticano; veja como foi despedida
Francisco foi o primeiro papa em mais de 100 anos a ser enterrado fora do Vaticano; veja como foi despedida (Foto: Reprodução)

Papa argentino foi enterrado na basílica de Santa Maria Maior, onde foi recebido por pessoas que tanto defendeu: pessoas em situação de rua, imigrantes e pessoas trans. Adeus ao Papa: funeral e cortejo de Francisco levam 400 mil fiéis às ruas de Roma e do Vaticano Para um papa, quando tudo começa, no alto da sacada da Basílica de São Pedro, a multidão o acompanha. Também quando tudo termina, no chão da Praça de São Pedro, sob os cantos, o vento, a comoção popular o acolhe. Neste sábado (26) ensolarado, a praça vestida de preto, branco e vermelho, esperava o papa morto sair da basílica. O caixão foi acompanhado por uma procissão de cardeais. O silêncio foi quebrado apenas pela multidão do lado de fora. E, depois, pela música sacra quando o caixão entrou na praça e foi colocado aos pés do altar. Sobre o caixão, o Evangelho. Eram as suas últimas horas dentro do Vaticano, onde Francisco viveu nos últimos 12 anos. A homilia foi do cardeal Giovanni Battista Re, a quem o papa estendeu o mandato de decano do Colégio Cardinalício, quando percebeu que poderia não resistir à pneumonia. O amigo não decepcionou. Deu a Francisco todo o reconhecimento pela sua obra. Fez um sermão contando os grandes momentos do governo do papa. "Ele tocou mentes e corações", disse Battista Re. Lembrou a sua última aparição pública no domingo de Páscoa. "Foi um papa no meio do povo, com um coração aberto a todos. Também atento àquilo que de novo surgia na sociedade", disse o decano. O cardeal ressaltou a preocupação de Francisco com os imigrantes e com o meio-ambiente. "Ninguém se salva sozinho", dizia Francisco. Cardeal Giovanni Battista Re Reprodução/TV Globo Diante dos líderes mundiais ali reunidos, alguns que criticaram Francisco sem pena, o decano falou de um papa que, diante dos horrores desumanos da guerra, levantava sua voz pela paz. Foi interrompido por aplausos. "A guerra sempre deixa o mundo pior do que estava antes. Ela é sempre, para todos, uma derrota dolorosa e trágica. 'Construam pontes e não, muros' é uma declaração que ele repetiu muitas vezes". O cardeal decano encerrou lembrando que Francisco se apresentava como bispo e sempre pedia ao povo que rezasse por ele. "Hoje, eu peço que Francisco reze por nós", disse o cardeal. "Abençoe a humanidade que procura a verdade de coração sincero e que carrega bem alto a chama da esperança". Fiéis de vários países leram as orações universais. Entre eles, a jornalista brasileira Bianca Fraccalvierid, da Rádio Vaticana. "Pelos povos de todas as nações, que, praticando incansavelmente a justiça, possam estar sempre unidos no amor fraterno e busquem incessantemente o caminho da paz", disse Bianca. Um vento suave virou as páginas do Evangelho, tocando os fiéis. Quando simplificou o seu rito fúnebre, Francisco desejava que fosse igual ao de um pastor. Depois da homilia, cardeais e fiéis receberam a comunhão e, então, as bênçãos finais. Jornalista brasileira Bianca Fraccalvierid, da Rádio Vaticana, durante funeral do papa Francisco Reprodução/TV Globo Saída do Vaticano para Roma O corpo do Papa foi levado mais uma vez para a basílica. Seguiria para a cripta se Francisco não tivesse feito outra escolha, recusando a companhia dos restos mortais de Pedro, o apóstolo, e de outros noventa pontífices, e preferindo a proximidade de Maria. Teve início então o cortejo histórico em direção à Basílica de Santa Maria Maior. Era a primeira vez que o corpo de um papa deixava os muros do Vaticano em mais de cem anos. O último havia sido o de Leão XIII, morto em 1903. Corpo de Francisco deixou o Vaticano no mesmo papamóvel onde, poucos dias antes, o papa cumprimentava os fiéis Reprodução/TV Globo Francisco deixou o Vaticano no mesmo papamóvel onde, poucos dias atrás, cumprimentava os fiéis. Entrou pelas ruas históricas de Roma, a antiga Via Papalis, onde os papas da Idade Média passavam a cavalo para comemorar o triunfo de uma eleição pontifícia. Em seis quilômetros de percurso, os romanos lotaram as calçadas para o último adeus, ao lado de peregrinos do mundo todo. Só os aplausos rompiam o silêncio. O cortejo passou por ruínas de uma Roma decadente, por um monumento símbolo da perseguição aos cristãos durante o Império Romano: o Coliseu, mais tarde cristianizado. Então, subiu o Esquilino, a mais alta das sete colinas de Roma. Nas escadarias da Basílica de Santa Maria Maior, a igreja de Maria mais importante do mundo, Francisco foi recebido por aqueles que tanto defendeu: pessoas em situação de rua, imigrantes e pessoas trans. Crianças ofereceram rosas brancas à pintura adorada por Francisco, a de Maria, protetora dos romanos, o famoso ícone bizantino que a tradição cristã acredita ter sido pintado por São Lucas. Era ali que Francisco se ajoelhava antes e depois de cada viagem. Era ali onde rezava depois de cada internação. O caixão foi levado para a lateral da Basílica. Numa cerimônia fechada, num túmulo decorado apenas por uma cruz prateada, cardeais, padres e familiares do papa viram o corpo de Francisco ser sepultado. Na lápide, a única inscrição: Franciscus. Mais romano do que nunca, o papa argentino dá um grande presente à cidade: um novo ponto de peregrinação. Mais de 400 mil pessoas acompanharam o funeral do papa. Romanos e fiéis de todos os lugares acolheram Francisco na Praça de São Pedro e pelas ruas da "cidade eterna" como um homem vivo e não como um homem morto. E isso talvez diga muito sobre a herança que ele deixará: uma herança para os cristãos e para o mundo.