Proposta de Trump de tirar palestinos de Gaza viola lei internacional?
Os aliados de direita ultranacionalista de Netanyahu provavelmente aplaudirão a proposta, mas as nações árabes a verão como uma limpeza étnica dos palesti...
Os aliados de direita ultranacionalista de Netanyahu provavelmente aplaudirão a proposta, mas as nações árabes a verão como uma limpeza étnica dos palestinos. Grande parte de Gaza foi destruída durante a guerra entre Hamas e Israel desde 2023 REUTERS Quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, começou a falar há 10 dias sobre Gaza como um local de demolição, pedindo para "limpar tudo", não estava claro até que ponto ele estava falando de improviso. Mas na preparação para a visita do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, em seus comentários no Salão Oval antes da reunião e na própria coletiva de imprensa com Netanyahu, agora está claro que Trump está falando sério sobre suas propostas. As propostas são a reviravolta mais radical de posição dos EUA sobre Israel e a Palestina na história recente do conflito — e serão vistas como uma violação do direito internacional. Além disso, a proposta também pode ter um impacto significativo em um momento crítico do cessar-fogo entre Israel e o Hamas e do processo de libertação de reféns. Trump e seus funcionários tentam fazer parecer que o "reassentamento" permanentemente de todos os palestinos de Gaza é um gesto humanitário, argumentando que não há alternativa para eles, porque Gaza é um "local de demolição". Segundo a lei internacional, tentativas de transferência forçada de populações são estritamente proibidas, e os palestinos, assim como as nações árabes, verão isso como uma proposta clara de expulsão e limpeza étnica dos palestinos de suas terras. É por isso que os líderes árabes já rejeitaram categoricamente suas ideias, feitas com frequência crescente nos últimos 10 dias, de que o Egito e a Jordânia poderiam "tirar" os palestinos de Gaza. LEIA TAMBÉM: Trump deixa fluir instintos expansionistas ao propor limpar Gaza de palestinos e escombros Trump retira EUA do Conselho de Direitos Humanos da ONU e da UNRWA, e diz que palestinos não têm alternativa a não ser deixar Gaza Em uma declaração no sábado, Egito, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Catar, Autoridade Palestina e a Liga Árabe disseram que esse movimento poderia "ameaçar a estabilidade da região, arriscar expandir o conflito e minar as perspectivas de paz e coexistência entre seus povos". Há muito tempo, a direita radical ultranacionalista em Israel deseja expulsar os palestinos dos territórios ocupados e expandir os assentamentos judaicos em seu lugar. Desde os ataques de 7 de outubro de 2023 a Israel, esses grupos — cujos líderes já fizeram parte da coalizão de Netanyahu — queriam que a guerra contra o Hamas continuasse indefinidamente, para que Israel restabelecesse em última instância os seus assentamentos na Faixa de Gaza. Eles foram contra o atual acordo de cessar-fogo e libertação de reféns. Em sua coletiva de imprensa na Casa Branca com o primeiro-ministro israelense, Trump foi além de seus recentes apelos crescentes para que os palestinos em Gaza sejam "realocados" para o Egito e a Jordânia, dizendo que os Estados Unidos tomariam o território e o reconstruiriam. Donald Trump e Benjamin Netanyahu deram entrevista coletiva na Casa Branca na terça-feira (4/2) EPA via BBC Quando perguntado se os palestinos teriam permissão para voltar, ele disse que "o povo do mundo" viveria lá, dizendo que seria um "lugar internacional e inacreditável", antes de acrescentar: "e também os palestinos". O enviado dos EUA ao Oriente Médio, Steve Witkoff, resumiu o tom da Casa Branca, dizendo que Trump "entende do setor imobiliário" — em referência ao ramo de atuação do presidente. Trump disse que Gaza seria a "Riviera do Oriente Médio". Questionado sobre se as tropas americanas estariam envolvidas na tomada de Gaza, Trump disse: "faremos o que for necessário". Suas propostas representam a transformação mais radical na posição dos EUA sobre o território desde a criação do estado de Israel em 1948 e a guerra de 1967, que viu o início da ocupação militar israelense de terras, incluindo a Faixa de Gaza. Gaza já era o lar de palestinos que fugiram ou foram forçados a deixar suas casas nas guerras que cercaram a criação de Israel. Eles e seus descendentes constituem a vasta maioria da população de Gaza até hoje. As propostas de Trump, se promulgadas, envolveriam uma população de mais de dois milhões de pessoas. As propostas eliminariam a possibilidade de uma futura solução de dois Estados em qualquer sentido convencional e estão sendo rejeitadas pelos palestinos e pelo mundo árabe como um plano de expulsão. Grande parte da base política de Netanyahu e do movimento ultranacionalista de colonos em Israel defenderão as palavras de Trump, para impedir que "Gaza seja uma ameaça a Israel", como costuma dizer Netanyahu. Para os palestinos comuns, isso equivaleria a um ato em massa de punição coletiva.